quarta-feira, 2 de junho de 2010

Então eu vomito


Quero romper com o silêncio que me oprime. Sou mulher, sou lésbica, sou feminista. A carga de SER alguma coisa é, de fato, muito forte e vem acompanhada de muitos receios e responsabilidades. Precisamos juntas mudar a estrutura social patriarcal, racista e supremacista masculina. Em nossas vidas só sentimos o peso insuportável dessa estrutura opressora quando ousamos ocupar lugares que os discursos hegemônicos ditam que não são os nossos. Não vamos aceitar isso! A nossa responsabilidade é a de nos organizar, nos expressar de todas as formas possíveis e agirmos para que haja mudança.


Os mecanismos da estrutura social opressora que agem sobre nós são muitas vezes considerados inofensivos, mas influenciam diretamente na nossa construção pessoal - são os filmes de princesas e príncipes encantados que nos fazem assistir quando pequenas, o padrão inalcançável de beleza nas novelas e propagandas, a história e as teorias que nos tornam invisíveis nos espaços acadêmicos, enfim, por todos os lados tentam nos sufocar.


Se dissermos que não vamos casar: Toda mulher tem que ter um homem na vida; se engordarmos: Do jeito que está seu corpo nenhum homem vai te querer; se demonstrarmos carinho, na rua, com a mulher que gostamos: E aí, gatinhas? Como faço para me meter aí no meio de vocês? Nessa cultura falocêntrica, mesmo quando nossas vidas não englobam a de um homem, eles fazem de tudo para descer na nossa goela abaixo. Então eu vomito. Não vou deixar que os meus beijos, carícias e desejos, antes mesmo de nascer, já tenham um DONO. Não podemos deixar que os discursos que oprimem a nós lésbicas, mulheres e também aos homens homossexuais nos marginalizem, criminalizem, violentem ou nos tornem invisíveis.


Não resumo a minha luta ao direito de casar e para que as religiões aceitem minha sexualidade, precisamos transformar as normas e as práticas que nos oprimem, não reproduzi-las. Se amamos uma pessoa, por que vamos prendê-las em um casamento? Por que continuar dividindo casa e rua, papel construído para a mulher e para o homem? Estas práticas seriam incoerentes, já que, lutamos contra a obrigação de se encaixar nesse modelo hetero-monogâmico e pela libertação de nós mulheres. Estamos numa sociedade que nos impõe a heterossexualidade de moral cristã e, politicamente, temos o compromisso de romper com essa hegemonia. Se queremos ser livres e o amor é livre, não vamos nos colocar na caixa que a opressão nos dá.


Precisamos, unidas, lutar contra todas as formas de opressão, numa perspectiva lésbica, radical, anti-racista e anti-capitalista, apenas assim nossos corpos não serão mais objetos de exploração sexual e econômica. Vamos dar um basta nisso! Romper com os nossos silêncios e mostrar que estamos no mundo apesar de negarem a nossa existência.
Mirela Fonseca - estudante de Ciências Sociais -UFBA, militante dos coletivos ContraCorrente e Mulheres na Rua.